Acima das Nuvens

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Acima das Nuvens, filme do diretor Olivier Assayas, conta a história de uma famosa atriz: Maria Enders, interpretada pela grandiosa Juliette Binoche. Aborda a questão da passagem do tempo, e de como uma grande atriz que já esteve em seu auge profissional, lida com a idade e com a falta nada reconfortante de sua juventude perdida. Kristen Stewart está no papel de Valentine, assistente de Maria Enders. Como sempre leva ao personagem uma mistura de Bella (Crepúsculo) e Joan Jett (The Runaways), ou seja, uma personagem introspectiva e que nunca deixa claro qual é a real emoção que quer passar a cada cena. Apesar disso, creio que dessa vez sua forma de atuação caiu como uma luva na personagem, me arrisco a dizer que foi uma de suas melhores interpretações já feitas.

O filme é claramente dividido em duas partes, na primeira Maria Enders está indo encontrar com seu grande amigo, mentor e diretor, que há anos atrás lhe deu o papel que fez sua carreira decolar. Uma série de acontecimentos leva Maria a se sentir fragilizada, além de estar passando por um divórcio, e se sentir muito só. Maria e Valentine ficam sozinhas por um bom tempo numa casa em Sils Maria, nos Alpes Suíços. A paisagem bucólica, fria e montanhosa colabora com o sentimento de Maria e com a personalidade que ela desenvolve com o passar dos anos.

Na segunda parte do filme, um jovem diretor de teatro chama Maria para desenvolver a mesma produção que lançou sua carreira como a jovem e impiedosa Sigrid, que conta a história de duas mulheres vivendo uma relação amorosa. Maria dessa vez faria o papel de Helena, a mulher de meia idade que é rejeitada por seu grande amor, Sigrid, vivida agora pela enérgica e muito jovial Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz). A partir daí uma série de questões existenciais afetam Maria e sua forma de atuar se mistura com as questões da sua vida real, fazendo com que ela fique confusa e agravando a crise de meia idade que assola todas as mulheres.

O diretor Olivier Assayas trouxe ao filme uma série de metáforas, a começar pelo seu título, que sugere uma realidade paralela e imaginativa. Estar acima das nuvens, assim como no cinema e no teatro quando os atores vivem realidades paralelas e imaginativas, eles podem ser aquilo que nunca pensaram ser capazes.  Ao mesmo tempo, existe aí a questão do presente e da vida real em oposição a vida na ficção, e o ponto onde elas se misturam e se confundem, é a arte imitando a vida, a vida refletida na profundidade da arte, no final tudo parece uma coisa só mas nem sempre é.

A transposição entre as personagens do teatro e a relação entre Val e Maria Enders, deixa presente a dúvida: será que elas algum dia já se relacionaram? Os ensaios das personagens muitas vezes se confundem com a real relação entre elas, deixando o espectador confuso, e imaginando algo além. Outra metáfora interessante é a da Serpente de Maloja, que é a formação das nuvens, que ao se movimentarem parecem uma serpente rastejando pelos Alpes Suíços, sugere também a passagem de tempo, e reforça a o olhar sobre o tema.

O filme deixa muitas questões abordadas em aberto, por vezes não chegando a lugar algum, correndo o risco de fazer o espectador se perder nas muitas facetas da história, que não culmina em um desfecho ápice. O foco fica nas discussões filosóficas entre Val e Maria ao longo do filme, sobre a relação amorosa e corrosiva entre duas pessoas, o medo de envelhecer contra a força da juventude e as muitas questões que permeiam um artista na hora de trabalhar o personagem. Assistiria novamente, mas confesso que quando vi o trailer achei que o filme seria um pouco mais interessante do que ele realmente é.