Hélio Oiticica- O Filme

ho

O documentário é a estréia no cinema do diretor César Oiticica Filho, sobrinho de Hélio, é um rico quebra-cabeça de imagens e vídeos, históricos, experimentais, entrevistas, da vida de Hélio, alguns elaborados por ele mesmo, como no caso das “Hélio Tapes”.  A edição de tais trechos transforma o documentário em um colírio para os olhos, com a voz do próprio ao fundo explicando, rememorando e tentando contar um pouco da sua vida e do seu processo de criação artística: o Parangolé, a Cosmococa, os Penetráveis.

Assim, o espectador consegue captar a sensibilidade que transborda em Hélio, a transcendentalidade de suas obras, e como ele conseguia expressar isso através da sua arte.

Helio, logo no início do documentário se autointitula inteligente e esperto, por aí notamos a sua personalidade narcisista. Através da riqueza de imagens  o documentário nos apresenta Hélio em todas as suas formas: excêntrico, liberal, experimentalista, brilhante, profundo e confiante. Conhecemos o Hélio sambista, fã da Mangueira, marginal e herói, que fala de sexo e drogas sem pudores, e usa deles para criar.

O filme retrata bem a sua relação com o Parangolé, e percebemos a força do seu fazer artístico nos sentires, sensações e prazeres mundanos, como o gosto por sentir o chão, a terra em que se pisa, levando isso à obra.

A trilha sonora merece destaque, numa harmonia perfeita com a narrativa e a época em questão, somos embalados ao som de Caetano Veloso, isso tudo para não falar da Tropicália. O Rio de Janeiro é seu plano de fundo, como não poderia deixar de ser, Hélio fala do “Delirium Ambulatório”, que era como ele percebia as pessoas e a cidade durante longos passeios, que mais tarde originariam as suas criações e os seus projetos.

O documentário é uma alucinação da arte com a vida, como ele mesmo fazia, adotando o mundo como o “quadro” de suas obras e poetizando o real. Dessa forma, ele preferia tornar visuais as ideias que lhe vinham a mente. Como no processo criativo da Cosmococa, em que ele usava a Cocaína como material construtivo de sua obra, e como diz no documentário: “Esse negócio é o seguinte sabe? Só mostrando.” O recado foi dado, diante da curiosidade é melhor ver para crer.