Precisamos falar sobre Rubens Ewald Filho

Críticos de cinema são, em sua maioria, pessoas difíceis. Chamados de ”chatos” por muitos, o crítico é aquele que as pessoas aplaudem na concordância e vaiam na discordância. É preciso ser sensato, sério e saber argumentar. Foi exatamente o que faltou ontem no canal a cabo TNT.

Critico de cinema, roteirista e escritor, Rubens Ewald Filho é figura certa na cobertura dos Oscars do canal, que também conta com a presença de Domingas Person. Conhecido no meio e influenciador de uma geração de novos críticos, Rubens deu um show de vergonha alheia ontem quando comentava a 90ª edição do prêmio.

Sobre o filme ”Uma mulher fantástica”, protagonizado por uma mulher trans, Daniela Vega – que é a primeira atriz trans a apresentar o Oscar – o comentarista disse: “Essa moça, na verdade, é um rapaz.”
O longa levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro.

A TNT reparou nesse micão e tentou amenizar as coisas:

E não parou por aí: Rubens também fez comentários machistas sobre a aparência da premiada atriz Frances McDormand, protagonista de “Três Anúncios para um Crime” e uma das indicadas ao prêmio de “Melhor Atriz”. De acordo com o crítico, ”ela é uma senhora que não é bonita e que deu vexame bêbada no Globo de Ouro!”. Porque, talvez na concepção dele, é feio mulher que bebe e só beleza importa, não é mesmo?! Frances tem 60 anos e levou o prêmio.

Não satisfeito com esses dois comentários desnecessários, que agitaram muito o Twitter, ele também falou mal do trabalho da ótima Saoirse Ronan, a protagonista de ”Ladybird” que aos 23 anos já foi indicada três vezes ao Oscar. Disse que é uma ”atriz fraca”, mas dessa vez não comentou sobre a aparência dela.
Que bom, né?

Não é difícil perceber que a dominação masculina e o machismo no meio da crítica cinematográfica se constroem como um reflexo do que ocorre no meio audiovisual. O cinema foi, durante muito tempo, um grande Clube do Bolinha, onde mulheres serviam apenas para aparecer, sorrir, e desaparecer – ou tirar a roupa, o que não fazia tanta diferença no final. Faltou empatia, bom senso e respeito – com o público e principalmente com as colegas de profissão – dentre elas, Susana Schild, Isabela Boscov e Ana Maria Bahiana, para citar apenas algumas.

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Rubens parece não entender que, sim, é preciso sair de sua bolha de homem-branco-de-classe-média-alta e perceber que existe vida ao redor. Negros, gays e oh!, mulheres! lutam por seu espaço num momento onde a internet consegue ampliar suas vozes e mudar suas vidas – e também aguentar críticas, que não faltaram ontem no Twitter do canal TNT. Num mundo onde movimentos importantes como o ”Time’s Up” ganham cada vez mais força, Rubens parece perdido em sua própria ignorância.

EDIT: dois dias depois do ocorrido, o jornalista se desculpou