5 perguntas para… Elika Takimoto

Professora carioca, escritora, mãe de 3 filhos: Elika Takimoto é muitas em uma só.
Recentemente, ela lançou seu novo livro ”Isaac no mundo das partículas”, que já virou peça e está em cartaz no Oi Futuro Flamengo. A história começa quando o protagonista Isaac (João Lucas Romero) vai à praia, segura um pequeníssimo grão de areia e começa a se interessar pelos mistérios universais.
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Nessa entrevista exclusiva, Elika fala sobre o projeto, confira:
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1. Gostaria de começar perguntando como você começou a se interessar por física, levando em conta que você é professora da matéria.
Foi na adolescência. Estava buscando respostas para perguntas sobre vida, o que é o universo, como surgimos… daí, a física foi apresentada a mim como uma ciência exata que tem respostas para um monte de coisas e ainda consegue prever o futuro, dado as equações envolvendo a variável “tempo”. Achei essa ciência muito poderosa e quis ter esse poder para mim. Mas já na faculdade fui apresentada a uma disciplina chamada “História da física” que me mostrou um outro lado dessa ciência que de exata não tem nada. Já dizem alguns, “os números enganam”.
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Pelo fato de ter matemática, a impressão que temos é que nas teorias científicas, em sua base, há verdades objetivas e universais. Indiscutíveis. “Comprovadas cientificamente”. E não é bem assim. Acabei me interessando demais por essa parte e fiz mestrado em história da ciência e doutorado em filosofia quando percebi claramente que não conseguimos nos livrar da metafísica subjacente a qualquer teoria científica. Metafísica aqui considerada a parte que transcende, que não é palpável, que não é ponto pacífico dentro da ciência. O que estou querendo dizer é que física é uma ciência tão humana quanto qualquer outra ciência, pois é fruto de uma mente criativa que pertence a um ser humano fruto de uma época e que os conceitos utilizados são extremamente controversos. E não falo só sobre a física quântica não. Falo também sobre a mecânica newtoniana, por exemplo. Massa, força, aceleração, tempo, espaço… todos esses conceitos que aparecem na base da teoria são conceitos megadifíceis de serem esclarecidos e não é consenso entre os filósofos e físicos como defini-los ou explicá-los.
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2. A peça ”Isaac” trata de um tema bastante ”cabeçudo”. Como foi para você adaptar as questões da física para o público infantil? Quais foram os maiores desafios?
As questões que movimentam a física hoje são as mesmas que qualquer criança saudável se faz. O que é matéria? De onde surge a massa? Podemos nos dividir em partes menores? Há um limite? O que é infinito? Como tudo surgiu?… Percebi isso através da interação com meu filho caçula, que me bombardeou de perguntas quando voltei do CERN (o maior laboratório do mundo, onde fiz o curso de física de partículas). Na ocasião, tentava explicar para ele o que havia visto ou entendido de tudo o que fui apresentada. E Yuki continuava a me fazer perguntas –  as mesmas que os cientistas estavam tentando responder lá no CERN como algumas dessas que já falei e mais outras tantas. Naquele diálogo, constatei que física não é algo que precisamos estudar muito, ter muita base, saber muita matemática para compreender sobre o que uma teoria científica versa.
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Dá para ter uma boa noção se soubermos conversar em níveis diferentes e usando linguagens acessíveis… Se você quer saber se entendeu algo sobre um assunto, tente explicar para uma criança – se não conseguir, o problema certamente não está na criança…
Desafio maior foi imaginar como trataria o assunto. Fiquei meses pensando sobre isso. Queria que houvesse um personagem principal e um “amiguinho” com o qual esse personagem interagisse. Como seria essa dupla? Esse processo foi um barato porque lia de tudo para buscar inspiração e é claro, Monteiro Lobato me ajudou muito. Dentre tantas coisas, que não devemos subestimar o público infantil. 
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3. A trilha sonora da peça é incrível. Como você e Joana (Lebreiro, diretora da peça) fizeram a seleção das músicas?
Eu não participei do processo de elaboração das músicas, mas interagi muito , em vários momentos,  com a Joana que, diga-se de passagem, é gênia no que faz. E ela captou toda a essência do livro! A música que o grão de areia, o Argo, canta na peça deixa isso bem claro. No refrão diz “Nem sempre é preciso ter pernas para andar,  nem sempre é preciso ter asas para voar, nem sempre é preciso ter olhos para ver, nem sempre é preciso responder para saber”. Ou a outra música “Como nasce um cientista? Nasce de um ‘como? e um ‘por quê?’ “. A trilha musical está um espetáculo e Ricco Viana, que também colaborou nessa parte, foi fundamental.
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A produtora Camila-Vidal, Elika-Takimoto e a diretora Joana Lebreiro
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4. As salas de aula hoje em dia precisam competir com celulares e TV. Na sua opinião, como o ensino da física pode se tornar mais interessante para as crianças e jovens superconectadas?
Não acho que as salas de aula hoje em dia precisam competir com celulares e TV. Elas precisam é deixar de competir e trazer tudo para dentro delas. Não faz sentido cobrar algo na prova cuja resposta tenha em sites de busca. A escola não pode ser o lugar para passar informações porque isso temos, literalmente, na palma de nossas mãos.
Ela deve ser o lugar em que se ensina a pensar sobre as informações que recebemos e a conectá-las. Se trouxermos isso para a sala de aula, e estimular o debate de ideias e o aprofundamento das mesmas via pesquisa feitas na hora, por exemplo, e em cima do que os alunos mesmos nos mostram acho que conseguimos tornar o aprendizado seja lá sobre o que for bem mais interessante. Proibir celular em sala de aula é algo que não faz sentido! Devemos saber e ensinar como usá-lo a nosso favor, ou seja, a favor do conhecimento.
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5. O CM+ é um site de cultura focado em cinema. Quais são os filmes de ciência/matemática que você indica para quem gosta do tema?
Filmes sobre ciência há uma infinidade que eu indicaria que vão desde ficção científica até documentários ou filmes baseados em fatos reais como, por exemplo,” A Teoria de Tudo”. Mas o meu preferido de todos que já vi é ”Frankenstein”, de Mary Shelley, em que o monstro é interpretado por Robert de Niro (o filme tem direção de Kenneth Branagh e foi lançado em 1994).
Há muitas questões que me tocaram nesta película como o que é vida, de onde vêm os sentimentos, sobre o limite das pesquisas… enfim, questões metafísicas que permeiam a mente de qualquer cientista.
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