8 perguntas para… Heitor Dhalia

Nesta semana estreia o filme Tungstênio, que teve a direção de Heitor Dhalia. O longa é baseado no quadrinho homônimo de Marcello Quintanilha, em que a narrativa, ambientada em Salvador, traz quatro personagens centrais num universo suburbano, periférico e violento.

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Confira nossa conversa com o diretor pernambucano, conhecido por ”O cheiro do ralo” e ”Serra Pelada”’:

 

Como surgiu a ideia de filmar Tungstênio?
O quadrinho foi me apresentado por um produtor e amigo que tinha interesse em adaptar a grafic novel de Marcello Quintanilha. Ele acabou desistindo e segui com o projeto. Entrei em contato com o Marcello e fizemos o primeiro tratamento. Por coincidência o Marçal Aquino, amigo e parceiro de longa data – fizemos o Nina e O Cheiro do Ralo juntos -, também estava interessado em adaptar a obra. Retomamos nossa parceria e levamos a ideia até Guel Arraes.

O que te chamou mais atenção nos quadrinhos que despertou a vontade de adaptar a obra para o cinema? Tungstênio é um quadrinho que aborda um universo suburbano, periférico e violento. É um forte retrato da exclusão e das tensões sociais que vivemos no Brasil. A violência urbana é um subproduto dessa desigualdade e isso me interessou no quadrinho. Tungstênio trata de questões atuais, de temas explosivos, mas faz isso de maneira dinâmica e com uma estrutura de linguagem bem inovadora.

Quais foram as maiores preocupações e desafios dessa adaptação? Minhas preocupações foram tentar traduzir a essência do material adaptado para a tela do cinema e como traduzir a narrativa de uma linguagem para outra. Tungstênio tem desafios extras, existem muitas cenas de ação, briga, cenas no mar que é dificílimo. Um ponto de atenção era traduzir aquela prosódia do personagem para a boca dos atores.

Como foi o processo de escolha do elenco? O processo de escolha do elenco é sempre mágico. Fizemos muitas oficinas com atores de Salvador até encontrarmos as pessoas certas para dar corpo e voz para aqueles personagens. O longa tem muitos personagens negros, o que tornou a procura por atores nos grupos de teatros locais maravilhosa. Foi um processo muito rico de troca e aprendizados. Tive a sorte de trabalhar com o Fabrício Boliveira e com Zé Dumont, e de achar a Samira Carvalho e o Wesley Guimarães.

Ainda sobre o elenco, especificamente sobre Samira Carvalho e Wesley Guimarães, não é a primeira vez que atores estreantes se destacam com importantes papeis em seus filmes. Você procura dar oportunidade para esses profissionais em todos os seus projetos? Especificamente em Tungstênio, como foi o processo para encontrá-los? Adoro encontrar atores novos, e trabalho com dois produtores de elenco geniais, Chico Aciolly e Ana Luiza. Os dois têm muito bom gosto para atores e adoram fazer escolhas ousadas. Eu também gosto. Acho importante trazer caras novas para o cinema e mais que isso, achar o ator certo para cada personagem.

Como se deu a preparação do elenco e qual foi seu método de trabalho com os atores no set? Você trabalhou com cada ator individualmente? Temos um método de preparação em grupo e individual. Por meio de várias técnicas, vamos achando o tom e aproximando os atores dos personagens, mas o mais importante nesse processo é estabelecer uma ponte de confiança entre ator e diretor. Um canal de comunicação permanente para os riscos e desafios do processo de produção de um filme, onde entra o restante da equipe. O processo de entendimento da dramaturgia e de como cada ator funciona é muito importante.

Do elenco à equipe de produção, você formou um time majoritariamente baiano. Foi proposital? Como se de essa escolha?   Foi uma escolha natural, pois a Bahia tem equipes e atores maravilhosos. Tivemos a sorte de encontrar pessoas para defender este filme!

O longa levanta discussões muito presentes em nossa sociedade, como: as relações de poder, relacionamentos tóxicos, saudosismo militar, marginalização e até mesmo crime ambiental, entre outros. Juntos, esses temas provocam uma explosão e tensão social. Esse é o tema central da obra? Tungstênio é um filme que trata de relações humanas esgarçadas pelo entorno. A pobreza, a corrupção e a violência social pressionam os personagens em todos os momentos. O filme se passa numa região violenta e periférica. Um dos protagonistas é policial, o outro um pequeno traficante. Esses personagens são tragados para uma situação de conflito, a partir de um evento aleatório, um crime ambiental. De alguma maneira,o filme captura muitos temas do Brasil atual. O Seu Ney, por exemplo, é um ex-militar, um retrato do Brasil atual. Nunca imaginei que teríamos uma possibilidade real de uma volta de um regime militar que pode se dar inclusive pelo voto. Tungstênio mostra um Brasil cheio de ódio, de relações esgarçadas e conflituosas.  Acho um filme que provoca um olhar crítico para o País de hoje.