De Menor

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O filme segue uma tendência contemporânea do cinema nacional, com muitas cenas silenciosas, típico de certos filmes franceses, misturado com o nosso velho drama baseado no retrato social do Brasil, na pobreza e na criminalidade. A diferença aqui é que isso é feito de forma bela e poética, nas entrelinhas. A diretora e roteirista Caru Alves de Souza soube tratar assuntos delicados de uma forma muito sutil, e não foi à toa que “De Menor” ganhou o Troféu Redentor no Festival do Rio do ano passado, junto com o aclamado “O Lobo Atrás da Porta”.

“De Menor” põe em foco uma temática polêmica e que nunca deixa de ser atual, os menores infratores, relacionando a isso os problemas familiares e a ausência dos pais na vida desses jovens.

Helena é uma advogada que trabalha na defesa de menores, em seus julgamentos no Fórum de Santos. Ela mora com Caio, seu irmão mais novo. A relação de Helena e Caio é forte. Os dois são como dois lados de uma mesma pessoa, tamanha é sua proximidade e dependência um do outro, ao mesmo tempo em que possuem uma diferença gritante no que tange a distinção entre o certo e o errado. Caru trabalhou muito bem essa dualidade, fazendo uma metáfora sobre a nossa sociedade atual através de dois personagens que são irmãos, habitam a mesma casa mas escolhem destinos totalmente diferentes. Helena se coloca no topo da sociedade, tanto pela profissão escolhida, como pelo posicionamento diante da vida. Caio tem nas mãos a opção de um destino diferente daqueles jovens que passam todos os dias pelo Fórum em que Helena trabalha, mas decide ficar à margem e acaba tendo que lidar com o peso de suas escolhas.

A fotografia leve do filme acompanha essa maneira delicada de tratar o assunto em questão, o que funciona muito bem e suaviza o melodrama. A diretora retratou uma história de perda e violência sem apelar, nos olhares longos é como se enxergássemos a alma de cada personagem, seus sentimentos, de modo que em muitas cenas a história fica subentendida. Todos os elementos do filme contribuem para a criação dessa atmosfera: o uso de cenas sem tanto diálogo, com olhares e gestos em foco, close-ups, tudo bem intimista, as lágrimas salgadas como o mar que aparece tantas vezes ao longo do filme, e a câmera que acompanha Helena o tempo todo, seguindo-a por trás, desde as suas primeiras cenas.

No fim, o resultado foi essa obra rara e com uma profundidade ímpar. Ficou doce mesmo se tratando de um assunto pesado. Não há como negar a contribuição dos dois protagonistas que interagiram belamente, Rita Batata no papel de Helena, de feições muito delicadas, consegue transmitir a força interior de sua personagem através do olhar, assim como seus medos e angústias e o peso de levar uma vida baseada em lidar com a desesperança diariamente. E Giovanni Gallo estreando no cinema como Caio, demonstrou a rebeldia característica dos jovens, mas também o carinho que sente pela irmã que o cria.

É um filme sobre amor e cuidado. Mas também é sobre tentar dar o seu melhor por alguém e se decepcionar, muito mais com a si mesmo. E ainda deixa a questão: Até que ponto em uma sociedade tão desigual, deve-se culpar apenas o autor do crime?