Run & Jump

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A diretora Steph Green conseguiu carregar a trama dramática de Run & Jump com otimismo e leveza. Vanetia (interpretada belamente por Maxine Peake, consegue levar a personagem o estoicismo e a perfeita alegria e jovialidade de viver) é casada com Conor (Edward MacLiam), percebe-se logo no início que ela deve cuidar dele como se fosse mais um filho, além dos dois que já possuem. Conor está se recuperando de um derrame e retorna para casa. Momento em que o Dr. Ted Fielding, interpretado pelo até então comediante Will Forte, entra na rotina do casal, vivendo por um tempo na casa da família, com o intuito de acompanhar a recuperação de Conor.

Falar que a partir de então a trama gira em torno da relação dos três personagens principais e sua esquisita relação entre si e com os outros a sua volta seria limitar demasiadamente os pormenores e as reviravoltas psicossensoriais do filme.

Percebemos as nuances da história conforme o desenrolar dos fatos, calmamente o filme vem se desvelando ao espectador apreensivo, fazendo com que seja possível degustar cada momento. É um filme que requer paciência e sensibilidade para admirar cada traço e cada cor.

Esse não é aquele filme que te faz chorar, levando á flor da pele, é mais aquele que te deixa com um sorriso de canto de boca do início ao fim. Também aborda algumas temáticas bem profundas: o bullying na escola, a superação de uma doença. Mas o fato do marido não reconhecer a esposa como mulher e não saber mais agir como homem da casa e do relacionamento é o fio que conduz a história. Logo, todos começam a desconfiar, a família, os espectadores do filme e inclusive Vanetia e Ted, será que o doutor será o novo homem da casa, aquele que tanto falta no agora indiferente Conor?

A beleza do filme está justamente em tornar a resposta para essa questão algo supérfluo. Não importa mais quem é o homem da casa. Se haverá ou não traição. De forma nenhuma é possível ver a esposa como uma pessoa má ou aproveitadora da situação do marido. Pelo contrário, Vanetia brilha, é como o Sol, guia toda a família e ilumina todos ao seu redor. Os passos dela influenciam no destino dos outros personagens, suas atitudes são potencializadas pelo amor incondicional que nutre pela sua família e pelo bom humor com que lida com as situações adversas em que se encontra.

A fotografia do filme acompanha muito bem a trama, com filtros, caminhando entre uma iluminação azulada e em tons amarelados mesclando com cores fortes, Vanetia usa em diversas cenas um casaco amarelo que dialoga muito bem com seus cachos que permeiam entre loiros e ruivos.

O poder de Vanetia de enlaçar e conduzir todos a sua volta fica claro durante a história, e culmina nas cenas finais, que além de linda é de uma poesia única. Nada mais precisa ser dito, a música domina as cenas através do som não diegético, destacando a trilha sonora belíssima do filme, do início ao fim.