6 perguntas para… Natália Lage

Natália Lage é atriz, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro e protagonista da série ”Hard”, que a HBO Brasil lança no domingo (17). Ela interpreta Sofia, uma paulistana rica cheia de preconceitos que fica viúva e herda uma produtora de filmes pornô da qual ela nem sabia da existência.
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 Nessa entrevista, Natália fala sobre o projeto e sobre a quarentena.
Confira:
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1. Natália, queria começar perguntando como surgiu o papel em ”Hard” e como foi sua preparação para viver essa personagem?
Fiz o teste e passei. Fiquei super feliz! É um trabalho super difícil pra mim, ela é a protagonista e está do início ao fim da série. Sabia que seriam muitas diárias, uma carga de trabalho muito intensa. A Sofia é uma personagem que tem um curva dramática muito grande, então tivemos uma preparação para nos aproximamos desse universo do pornô, que eu conhecia de longe. Assistimos documentários, conversamos sobre o roteiro, sobre esse universo, nos encontramos com atores profissionais, trocamos ideias com eles… Tivemos preparação de elenco também com a Fernanda Rocha, que é ótima, nos ajudou muito nesse processo. Na série eu tenho dois filhos, eu não sou mãe ainda, então essa relação com as crianças foi muito importante, fizemos uma série de exercícios para criar essa unidade.
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2. Você é conhecida por seus papéis cômicos nas séries ”A Grande Família” e ”Tapas e beijos”. A série ”Hard” é também uma comédia, mas que explora uma mudança radical numa família aparentemente perfeita e de alto poder aquisitivo. Qual foi o seu grande desafio nesse trabalho?_É um personagem muito grande, difícil. Como você disse, eu já tinha feito comédia, então todos esses trabalhos eram diferentes da proposta da série. A gente buscou um tom realista, que fosse quase um drama mas com humor, sabe? Não era comédia rasgada, histriônica, com composição de personagem, era uma coisa mais naturalista mesmo, mas que as situações de mostrassem engraçadas, para que a gente pudesse buscar esse humor da série mesmo através das situações e não da caracterização. Isso poderia dar um tom de crítica a esse universo que já é marginalizado e essa não era a proposta da direção. As situações já são engraçadas em si. Você imagina uma mulher de classe média alta, conservadora, mãe de dois filhos… ela tem que entrar nesse universo que ela tem tanto pavor. Como ela vai lidar com isso? O humor já está nessa premissa. A gente só precisou afinar. As minhas primeiras cenas são muito dramáticas! A mulher perde o marido logo no início, e logo descobre sobre a produtora, que está com dívidas, o marido mentiu pra ela… Num primeiro momento foi mais drama e comédia.

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3. Sofia abriu mão da carreira para ficar em casa com os filhos, e agora vai ter que se tornar uma empresária e recuperar a empresa do marido. Como você vê essa narrativa do empoderamento feminino na TV nos dias de hoje?
Eu acho muito importante que existam personagens como a Sofia, que colocam a mulher nesse lugar ativo, predominante, de comando. Ela abriu mão da carreira por causa dos filhos, se formou em Direito mas nunca exerceu, teve dois filhos, o marido tinha dinheiro e ela acabou se ocupando das coisas de casa e da criação dos filhos – que é também uma tarefa hercúlea – mas ela não tinha essa vaidade, esse reconhecimento de se sentir ativa e criativa. Depois desse acontecimento a vida dela vai virar de cabeça para baixo, ela vai tomar as rédeas da própria vida, rever seus conceitos e preconceitos, se sentir uma nova mulher mesmo. Nessa descoberta dessa nova Sofia, que é uma mulher criativa, empreendedora, administradora, isso vai mexer muito com a auto estima dela. Eu acho super importante, tem algumas séries que já retratam isso e eu acho que é um movimento afirmativo que devemos fazer de recolocar a mulher num lugar que não seja um lugar submisso, que seja um lugar de potência criativa. Eu acho que a Sofia representa bem essa possibilidade em dois aspectos: o primeiro é de você se reinventar; o segundo é o de você dar conta de ser empresária, mãe, amante, filha. Tudo isso equilibrando pratinhos.

Natalia Lage, Hard, HBO

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4. Você fez muitas novelas, teatro e cinema, além de apresentar o programa ”Revista do cinema brasileiro”. Quais os maiores aprendizados que você levou desses trabalhos? Gostou da experiência de ser apresentadora/entrevistadora?
Eu acho que cada trabalho traz alguma coisa nova pra gente. Tenho um carinho especial por todos os trabalhos que fiz, foram muito importantes na construção da minha carreira e até na minha vida pessoal. Busco sempre que posso escolher trabalhos diferentes. Já fiz muita coisa de drama, depois comédia, fiz ”A Divisão”, que é policial, fiz ”Lendas urbanas”, que é terror… Gosto de transitar entre os gêneros para exercitar meu ofício. Fui apresentadora também, no momento o projeto está parado mas pode voltar a qualquer momento. Sou apaixonada pelo cinema e tive a oportunidade de trocar com diversos profissionais, não só atores, mas diretores, maquiadores, preparadores de elenco. Cada conversa era muito enriquecedora! Como diria Fernanda Montenegro: ”Tem algo no ator que depende do que ele é”.
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5. Vamos falar um pouco sobre esse momento que estamos vivendo agora: o distanciamento social. Que tipo de conteúdo (séries, filmes, músicas) você está consumindo?
Então… estamos nesse momento de quarentena, importante que quem pode ficar em casa fique para se preservar e preservar os outros também. Acho que muita coisa vai mudar, isso está acontecendo numa escala global. Eu não acredito na aleatoriedade desse evento, eu acho que ele vem pra ensinar muitas coisas pra humanidade, espero que a gente tenha paciência pra conseguir entender o que a gente tem que aprender. A gente tem que pensar mais coletivamente, se conhecer mais, ter mais tempo pra relações de afeto. Eu tenho estado numa rotina bem introspectiva, essa semana divulgando ”Hard” tenho estado mais agitada, mas eu tenho um temperamento mais introspectivo mesmo. Eu faço colagens, bordados, gosto de ler, ver filmes… No momento estou lendo um livro do Philip Roth que se chama ”Quando ela era boa”, é um romance que se passa na década de 40. É a história de uma mulher que tem um problema com o pai. De séries, estou assistindo ”Hunters”, da Amazon Prime, com Al Pacino no elenco. Se passa na década de 70. Estou com meu namorado em casa, cozinhando, que era uma coisa que eu não fazia muito, e tentando respirar fundo e fazendo bastante oração.

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6. Você nasceu em Niterói. Quais são suas principais lembranças da cidade?
Eu me sinto muito de Niterói! Amo a cidade, meu pai mora aí, meu irmão e minha irmã também. Agora moro em São Paulo. Eu lembro de tudo de Niterói. Sou apaixonada por Itacoatiara, adoro o Parque da Cidade, São Francisco, visitar meus amigos… É uma cidade que dependendo da rotina da minha vida eu voltaria a morar com certeza. Tenho muito orgulho, bato no peito e falo pra todo mundo que sou de Niterói. Acho uma cidade exemplo, linda, bem cuidada. Tenho muitas lembranças boas. Estou na cidade sempre que posso. Quando estou no Rio sempre visito a cidade, aproveito pra ver meu pai, meus sobrinhos. Amo de paixão.